http://www.blogger.com/

lunes, 28 de noviembre de 2011

MI BICI CAMINO (IV): Primer viaje a Portugal (Agosto 2002)

El jueves pasado una amiga me preguntó si todavía escribía en Portugués. Al contestarle que desde hacía meses no, me recordó sabiamente (las verdades mejor sabidas son las que más fácilmente se olvidan) que los idiomas, si no se practican, se pierden en seguida. Así que esta semana decidí teclear la última versión de mi primer viaje a Portugal, relatado en diferentes formatos y extensiones desde primero hasta sexto. No os espantéis: mi portunhol es fácilmente comprensible, con la ventaja de que no me pillaréis las faltas de ortografía.

Además de practicar portugués, esta publicación me ha servido como pretexto para configurar el escáner, aunque he perdido la primera remesa de fotos, es decir, media tarde. Aprendí a utilizarlo para matar el tiempo durante la primera lesión; después de 8 años sin practicar, se me había olvidado.


PORTUGAL DE BICICLETA

"Dend aiqui vexo un camiño
que non sei adonde vai;
po lo mismo que non sei
quixera o poder andar"
(Rosalía de Castro)

Antecedentes de facto: Comecei esta viagem -que é uma das mais significativas da minha Vida- sem ter refletido previamente sobre ella. Foi assim: uns amigos vieram jantar à minha casa e troxeram as fotografias da sua viagem por Portugal. No dia seguinte eu soube que o curso próximo trabalharia perto de casa. Fiquei muito contente; rumei para a estação de autocarro; olhei as destinações possiveis... E pedi um bilhete para... Iria para Portugal, continuando assim o sonho estragado no verão anterior na fronteira de Extremadura!

“As malas”: Os alforges foram a minha “casa” por um mês. Proporciona uma grande sensação de liberdade comprovar que tudo o que uma persona precisa para Viver só pesa 7 kg: duas calças com proteções (culottes), duas T-shirts de algodão, um par de mudas de roupas interiores, um forro polar, um guarda-chuvas, uma camisola, umas malhas, e a mobília: o saco-cama, a bolsa de bivaque, a esteira, a lanterna, os talheres, as ferramentas, o livro e o caderno (as canetas gosto de comprá-las no lugar, assim ficam como lembrança cada vez que escrevo)

O alojamento: Em companhia duma bicicleta não é facil encontrar alojamento em Portugal. O turismo rural não está tão desenvolvido como em Espanha (ano 2002) e na maior parte dos alojamentos não era possível ter a bicicleta num lugar fechado, nem sequer no próprio quarto. A primeira noite tive de ficar na floresta perto da estrada.

 

Duas noites apanhei cama nas Pousadas da Joventude (económicas, confortáveis e com bom ambiente multicultural) As restantes dormi em parques de campismo (muito bonitos e ainda mais económicos); a bicicleta amarrada numa árvore foi o traveseiro no hotes das mil estrelas.

O primeiro contacto com a língua portuguesa: “Vai sozinha? O marido da senhora vai diante?”, perguntavam-me quando eu tentava perguntar-lhes alguma coisa. Não havia muitos ciclistas nas estradas de Portugal e nenhum dos poucos que encontrei era mulher. A gente falava-me habitualmente em inglês, se calhar porque mulher, ciclista e solteira era algo muito raro para vir justo do país vizinho. Achei que a viagem teria sido ainda mais bonita e interessante se tivesse falado Português.

O percurso: Queria entrar em Lisboa pedalando à beira do Tejo, era assim como o sonhava. Por isso desci do autocarro no primeiro ponto em terras lusas: em Évora, às quatro da manhã, com a bicicleta em pedaços e os alforges. O vigilante compadeceu-se e permitiu que esperasse na sala até ao amanhecer. Percorrer Évora com as primeiras luzes foi um magnífico espectáculo!


Pensei fazer rotas por trilhos, como cá em Espanha, mas pronto descobri que em Porgugal os caminhos pertenciam a propriedades valadas ou não estavam condicionados para ir de bicicleta. Nas estradas também não era facil: não há bermas em muitas delas nem carrís especiais e os condutores estão todo o tempo a buzinar com todas as suas forças. No entanto, a vontade de conhecer o país motivou-me a dar pedais.

Uma confusão decidiu o meu percurso: confundi Azinhaga (a aldeia onde Saramago nasceu) com Azinheira (no Sul do Alentejo). E para ali rumei.

No Sul a paisagem é cheia destas árvores (alcornoques) e de barragens. As pequenas vilas estão longe umas das outras e no mês de agosto não se vê muita gente na rua.

Alcançada Azinhera sem indícios de Saramago ter passado feito cosa memorável ali, procurei em diagonal a costa, que nessa altura estava a viver o apogeu da construção. Lembrei-me do Levante espanhol e achei que era pena que paragens tão bonitas fossem terminar assim.

Gostei muito de subir a minha bicicleta nos barcos que atravessam as rias. Apanhei um de Troia até Setúbal e outro para entrar em Lisboa da Costa de Caparica. Oteando a Torre de Belém no convês, Lisboa apresentou-se ainda mais mágica do que tinha imaginado. Como prémio, fiquei por três noites numa pensão.


O primeiro dia comprei um bilhete para todo tipo de transporte público, incluído o elevador de Santa Justa. Lisboa pareceu-me tão bonita que às vezes, depois de fazer um percurso de eléctrico, descia e voltava a fazê-lo a pé. Segui os passos de Ricardo Reis pela Rua do Alecrim e tomei uma bica junto a Pessoa no café “A Brasileira”.


No terceiro dia saí para Sintra pela costa Estoril-Cascais, onde o trânsito é perigoso para os ciclistas. Detive-me no rochedo da Boca do Inferno, mas nunca pude vencer o frio de tomar um banho no Atlântico. Lutando contra o vento visitei o Cabo da Roca, o ponto mais occidental do continente; desde aquela etapa Portugal passou a chamar-se “O País do Vento”.






Percorri a região de Ribatejo (voltando em diagonal para o interior) seguindo as indicações de Saramago em “Memorial do Convento”, onde descreve como foram carreiadas as pedras para a construção do convento de Mafra. Se o deus daqueles homens tivesse tido piedade deles e dos ateus ciclistas do futuro, não teria criado semelhantes encostas.









Por fim, entre as vilas de Santarém e Tomar (terra de templários) topei-me com Azinhaga. A casa natal de Saramago, muito humilde como a aldeia toda. A única fachada que estava bem pintada era a sede do Partido Comunista de Portugal.

 
 
























De Tomar até Coimbra foram 85 km de chuva, num domingo em que tudo estava fechado e a gente do ámbito rural olhava com desconfiança uma rapariga molhada até os ossos em cima de uma bicicleta.

Visitada a cidade, retomei a costa em Aveiro, para entar no Porto des de Vilanova de Gaia, onde voltei à tarde para visitar as adegas. Ao voltar para o parque de campismo ao anoitecer, depois de experimentar o bom vinho, tive dificuldades para encontrar a bicicleta. Devo dizer que é uma cidade de contrastes entre as maravilhas monumentais e as ruas mais povres perto do centro.





Como tinha saudades de Montanha, entrei por Barcelos e Braga nas serras de Gerês, Amarela e Peneda. Apesar da dureza da rota, não me arrependi! No mesmo dia atravessei muitas vezes a fronteira com Galiza, sem saber em que país pedalava, o que demonstra que as fronteiras são simplesmente linhas que os homens desenham.

 Depois de uma descida prolongada, em Melgaço juntei-me ao Minho, que deixei em Valença, onde afogara-me a saudade da omelete espanhola e dos caminhos de terra, e atravessei a Tuy. Segui a viagem até Fisterra pelo Caminho de Santiago.














Depois de 23 dias de viagem e 1400 km de pedais, o entardecer no Cabo de Fisterra foi um momento que nunca vou esquecer. Só tinha uma certeza: “Sempre vou dar-me bem com a minha bicicleta, Caminho, e comigo mesma”. Este verão, "sozinha", acabei felizmente os caminhos que tinha deixado a meias o ano anterior: ultrapassei a fronteira de Extremadura, pedalei à beira do Tejo e, na mesma viagem austera e calada, dormi sozinha no Seminario Menor de Santiago, passei pelo "lugar onde pôde estar o Paraiso" e acabei o caminho a Fisterra que tanto imaginei.


Km 1397
 

No hay comentarios:

Publicar un comentario

http://www.blogger.com/